terça-feira, 13 de outubro de 2009
Mais de Muriel Barbery
"Assim, como se passa a vida? Nós nos esforçamos bravamente, dia após dia, para assumir nosso papel nessa comédia fantasma. Como primatas que somos, o essencial de nossa atividade consiste em manter e entreter nosso território de tal modo que nos proteja e envaideça, em escalar, ou pelo menos em não descer, a escada hierárquica da tribo, e em fornicar de todas as maneiras possíveis - ainda que como um fantasma - tanto para o prazer como para a descendência prometida. Assim, gastamos parte não desprezível de nossa energia, a intimidar ou seduzir, já que essas duas estratégias garantem, sozinhas, a busca territorial, hierárquica e sexual que anima nosso conato. Mas nada disso chega à nossa consciência. Falamos de amor, de bem e de mal, de filosofia e de civilização, e nos agarramos a esses ícones respeitáveis como o carrapato sedento a seu cão bem quentinho."
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