terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quando o universo te dá uma rasteira

Eu andava pensando no rumo que as coisas tomam. Esse lance de caminho. Nos passos que a vida dá pelas pernas da gente e para onde levam nossos pés. A estrada. E a escada. Acho que estava pensando nisso quando, literalmente, caí da escada e quebrei o pé. Levei uma rasteira do universo.  Nem sempre o universo é metafórico. Agora ando pensando mais. Acho que quando uma parte do nosso corpo para, outra quer compensar. Tenho pensando na mobilidade. Que a distância das coisas é muito relativa, dependendo do peso que você carrega. Expliquei por aí que estava tendo uma enxaqueca. Só que nos pés. Pés têm muito a ver com caminhos. São eles que nos levam. E quando eles param, quem nos leva é a cabeça. Eu tive enxaqueca há uns dias. Doeu e eu queria correr daquela dor. Agora a tenho nos pés e minha cabeça corre. Acho que a gente nem sempre precisa correr com a cabeça, senão os pés reclamam. Ao contrário também.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Pequenos rituais

“Tenha festa no Festejando! Tenha festa no Festejando!”. A menina murmura no carro enquanto passamos por um buffet infantil pertinho de casa. “O que foi?”, pergunto sabendo que lá vem história e que, talvez, fosse melhor ignorar o assunto. Mas vá lá. É segunda-feira. Ela me conta que percebeu que sempre tem movimento quando passamos por lá e que, se acaso um dia não aconteça uma festa, todos os prédios da rua vão cair. Oh!

Tirando o fatalismo da pequena de oito anos, fico lembrando que sempre tive rituais mentais para decidir de grandes a mínimas coisas. Já colecionei fichas telefônicas no bolso. Jogava pro alto. Duas linhas, eu ligava. Uma linha, nunca mais. Que os prédios caíssem, mas nunca usaria o telefone público novamente!Daí inventaram os cartões para acabar com minhas dúvidas e depois os celulares. Nunca joguei meu celular no chão para saber se ligava ou não...

Quando a gente cresce, os pequenos rituais vão se transformado, mas é bonito bonito de ver o quanto construímos as pequenas crenças e carregamos isso com a gente.

Não, filha, os prédios não vão cair porque não houve uma festa, mas o que a gente acredita vai se edificando com o tempo. Desmoronam uns pensamentos, erguem-se outros, independentes das festas lá fora. O bom é que a gente não perca a festa que acontece dentro da gente que o movimento permaneça. Independente das implosões.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pinturas que a vida faz

Ela disse que jamais me desenharia de olho roxo, mas olho esse desenho e penso que parece um retrato perfeito de alguns momentos. Olhos roxos existem em mim, ainda que transparentes. Olhos roxos aparecem nas pequenas decepções do dia, no cansaço de tentar ser o que é mais aceitável. Tenho os olhos roxos por ti... São “doidos”, na música de Nei Lisboa. Mas tenho os olhos doidos/roxos das coisas que não digo, das coisas que não faço, das coisas que penso e não revelo. Vai transbordando nos poros. Ficando lilás embaixo das pálpebras até aparecerem azulados, roxos, machucados. Eu tenho os olhos machucados, tristes, caídos para baixo. Meus cantos dos olhos não têm visão periférica, tem visão do que está sob. E embaixo do tapete há sempre poeira. Há sempre acúmulo do que ninguém quer mais. Meus olhos têm alergia do pó acumulado embaixo dos tapetes da vida. E ficam roxos...

(*) Ilustração de Helena, cada dia mais representativa.












terça-feira, 24 de julho de 2012

Sobre jacarés

As manhãs têm me dado alguns presentes. Tenho sido surpreendida por pensamentos, por carinhos, por emoções que resolvem aparecer cedinho para dar bom dia. Hoje cedo, Helena me presenteou com um desenho que continha – pra mim – bem mais que traços e cores. Há algum tempo, quando ela me perguntou o que eu queria de presente de aniversário, respondi que queria um jacaré. Faltam uns dias pra data, mas a menina tem memória de elefante e já está ansiosa com o dia. Acordei com o rostinho lindo dela me dando um jacaré. Tal qual meu pedido. Tartarugas e pássaros: tremam, voem, saltem, rastejem! Há um jacaré surgindo. E tem tanto sobre mim nesse desenho. Tenho medo de ir devagar demais em alguns momentos; de andar a passo de tartaruga quando na verdade deveria dar um vôo rasante. Tenho medo de voar rápido demais, quando deveria parar e observar as coisas com olhos de réptil. E por fim, tenho medo de devorar a tartaruga e o pássaro que há em mim, com dentes mortais e afiados. Vou registrar esse desenho em mim, para que eu me lembre de conviver passivamente com todas as emoções que surgem e com todos os animais que somos. Pela manhã e ao longo do dia. Já ganhei meu jacaré. Vou adestrá-lo agora.


terça-feira, 15 de maio de 2012

Vendo corações

É engraçado porque quando a gente gosta, nenhum outro amor antigo faz sentido. Eu sei que faz. Mas demora pra entender. E a gente segue vendo corações no meio do caminho...E a gente segue...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Própolis, charadas e mudanças

Deu nisso. Foi assim que a gente batizou nosso primeiro macarrão. Lá pelos idos de sei lá. Porque foi com ela (e nosso amigo terceiro elemento) que comecei a gostar de cozinhar. A adivinhar que a cozinha era um processo criativo tanto quanto escrever. Mas na época, nós nem tínhamos geladeira. E descíamos pegar ingredientes, cerveja ou vinho Marcus James na velocidade que a conversa fluía.

Isso foi no primeiro apartamento. E desde então, ela me acompanhou em todas as mudanças. Foram várias, né Ronise Vilela? E agora é você quem dá um salto alto nessa vida, depois da Alice, que pra sua sorte tem a minha personalidade! (Rá!).

Amiga, parabéns pelo aniversário e pela conquista. Desde aquele dia em que trocamos receita de própolis para gripe no Estadinho, sabemos que podemos contar uma com a outra em qualquer ocasião. Estarei sempre por perto, mesmo que os dias sem contato se alonguem. Mas não vão, né? Parabéns!!!!

sexta-feira, 16 de março de 2012

quinta-feira, 15 de março de 2012

Tudo muda em um minuto

Sim. Fica tudo difícil. Uma nuvem negra. Com pessoas que você não quer mais por perto. Com coisas que você não quer - nem precisa - passar. Chove na sua alma. Mas então vem uma menininha e faz um desenho seu. Como uma fada. E você ainda ganha um unicórnio pra lá de simpático de presente. E aí o mundo ganha cor de novo. Porque se alguém vê você assim, deve ter alguma verdade, né?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Hoje eu só quero

Eu tenho pena de quem não quer se apaixonar.
Eu me apaixono todos os dias. Pelas pessoas. Por uma coisa. Pela música breguinha da Luciana Melo que toca no carro: “Hoje eu só quero que o dia termine bem”
Apaixonar-se não significa que você vai viver o resto da vida com aquele objeto da paixão ou vai ser esmagado por ele. Pelo contrário. Apaixonar-se te dá o direito de escolher o tempo inteiro. Te dá a opção de querer continuar. Te dá a opção de querer. E não há nada melhor do que ter (e fazer) escolhas.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quando a gente cresce

Ela sempre chorou muito. Chorava quando ouvia "não". Chorava para comer. Chorava para parar de comer. Para entrar no banho. Para sair. Minha paciência às vezes tinha limite. Outras não. E eu chorava junto. Hoje acordei pensando que não ouço chororô há tempos. Tempos mesmo. Ontem ela deixou cair um esmalte no piso da cozinha. Quebrou e fez uma lambança. Dei uma bronca e a mandei pro quarto até que eu limpasse. Quando me dei conta ela estava quietinha, com uma lágrima discreta escorrendo no rosto. Magoada. "Desculpe", disse. Eu a abracei e me dei conta que quando a gente cresce, chora pra dentro. E deve doer mais...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Invenções

De vez em quando a gente ganha um tempo só pra gente e não sabe muito bem o que fazer com ele. Aquele pedaço de tempo antes preenchido fica vazio, ali, parado na tua frente, te instigando: "E aí, cara!" Aí você pega aquele pedaço de vazio e vai dar uma volta e enche ele de coisa. E aquilo que era perdido, vira uma imensidão. Pode até virar uma invenção. "A Invenção de Hugo Cabret". Porque, olha, se esse tempo vazio aparecer mesmo na sua frente, você vai adorar inventar isso!

Profundo

Eu disse que queria conhecer o fundo do mar. E ela disse: - Acho que posso fazer um pra você...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Há oito anos eu ganhava um sol particular

Aos oito anos, ela pula, brinca, se diverte, argumenta.
Aos oitos anos, ela pergunta, responde e fica sem respostas pra tentar depois.
Aos oito anos, ela brilha, repensa, tem memória de elefante e esquece quando convém.
Aos oitos anos ela ganhou uma maturidade que falta em muita gente que tem mais.
Empresta o brilho que tem nos olhos pra quem pede. Ou precisa.
Há oito anos eu colho a luz dourada dela.
E brilho junto.
Obrigada, filha, pelos oito anos tão lindos ao seu lado.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Eu, por Rodin