domingo, 13 de setembro de 2009

Publicado na Folha de hoje...

As voltas que o mundo dá

Um dos mais premiados chefs de cozinha do Paraná é formado em Direito, foi vereador, é piloto de avião, madeireiro e apaixonado por vinhos, mas nenhuma função o deixa tão satisfeito - e trouxe tanto reconhecimento - como a de cozinhar

Curitiba - Comer bem sempre esteve entre as prioridades do paranaense Luiz Renato Ribas Durski Júnior, mas até que ele fizesse disso um caminho para uma conceituada carreira, muitas panelas foram ao fogo. Descendente de poloneses, nascido em Prudentópolis, região central do Estado, ele aprendeu desde cedo que a comida é quase como uma oferenda. Afinal, faz parte da cultura ucraniana e polonesa oferecer quitutes variados como uma forma de agradar, seja aos visitantes ou a própria família. E contentar aos outros tem sido uma premissa do hoje conceituado chef de cozinha.

Eleito chef do ano no Prêmio Veja Curitiba 2009, ele acumula prêmios para si e para o restaurante que tem o nome da família, além de sua outra ''casa'', o Madero, que está em pleno processo de expansão. Sua mais nova conquista foi ter o Restaurante Durski incluído na lista dos 1001 lugares para se conhecer antes de morrer, elaborada pelo Guia Quatro Rodas. Satisfeito com a trajetória, Durski enfatiza, no entanto, que o reconhecimento não é motivo para estagnação. Pelo contrário. Ele quer mais. ''Acho que a gente sempre pode melhorar. Eu só vou sossegar quando as pessoas saírem do Rio de Janeiro e São Paulo para virem jantar no Durski'', brinca.

A brincadeira tem fundamento. O restaurante está se transformando em referência na culinária em todo país, tanto pela comida contemporânea com inspiração polonesas, quanto pela extensa carta de vinhos que eleva a adega da casa a maior do Brasil. São 2.040 rótulos, com garrafas datadas até de 1884. Vinhos são uma outra paixão do paranaense, aliás. Mas vamos voltar ao tempo para contar como um menino do interior, formado em Direito e eleito vereador como um dos mais votados do seu partido, renuncia à carreira política na sua cidade natal, abandona a advocacia e vai dirigir caminhão em Rondônia para transportar madeira e ganhar dinheiro para ajudar o pai.

Durski mudou-se na adolescência para Curitiba e acabou aprovado na faculdade de Direito de Itapetininga, em São Paulo, aos 17 anos. Nas duas experiências sentia falta, principalmente, da comida feita pela mãe, e não poupava esforços em gastar todas as economias em fartos almoços e jantares nos restaurantes mais conhecidos da cidade. Começava aí a sua longa iniciação pela gastronomia. ''Eu gostava de comer bem, de provar bons pratos e conhecer bons restaurantes, mesmo que depois passasse o resto do mês comendo na casa de amigos por falta de dinheiro'', lembra.

Recém-formado, ele foi trabalhar como advogado em Prudentólis e foi incentivado por uma velho amigo da família a se candidatar a vereador. Ganhou disparado. Pouco mais de um ano depois, no entanto, decepcionado com o verdadeiro mundo da política, renunciou. ''Eu achava que na política ia poder ajudar todo mundo. Mas não é bem assim. Esse mundo é recheado de interesses pessoais e outras coisas que não concordo'', diz. Com a família em dificuldades financeiras, ele mudou-se com os pais para o norte do país para dedicar-se à exploração da madeira, atividade que o pai, empreeendedor, estava apostando.

Na indústria madeireira passou por todas as atividades, desde empunhar a motoserra a dirigir os caminhões que transportavam a madeira. Foi nessa época que a paixão pela culinária tornou-se mais forte. ''Lá não tinha restaurante, então eu ia para cozinha. Era minha distração'', revela. E, de certa forma, a dedicação ao trabalho familiar tomou um rumo por conta da paixão do jovem paranaense.

Estimulado a exportar o produto, por exemplo, ele escolhia destinos como Itália e a França, berços da boa gastronomia. ''Para os Estados Unidos eu não ia. A comida lá não é boa'', enfatiza. Na prática e enquanto trabalhava com a família, ele começou a desenvolver um paladar ainda mais aguçado e um gosto para vinhos e bons ingredientes que foram se incorporando na sua escolha futura.

De volta a Curitiba, depois de 15 anos em Rondônia, ele decidiu montar um restaurante. Primeiro como hobby, mas já no primeiro ano a casa arrebatava importantes prêmios de gastronomia. ''Eu sempre gostei de cozinhar para os amigos. Mas eles chegavam na minha casa e não iam embora e eu gosto de dormir e acordar cedo'', diverte-se contando que, com o restaurante, pode deixar os amigos se divertindo e voltar para casa, onde vive com a segunda mulher, a arquiteta Kathleen Ribas, e a filha, Isabela, de pouco mais de um ano (ele ainda tem outras duas filhas, Laysa, de 20, e Maysa, de 17).

O restaurante vai completar uma década no ano que vem, mais ou menos o mesmo tempo que Durski começou a se dedicar a uma outra paixão: os aviões. Para agilizar a ida e volta do Norte do País, região que continua visitando, ele aprendeu a pilotar. Chegou a ter três aviões de modelos diferentes, mas agora se desfez de todos. ''É muito caro para manter, mas eu ainda empresto dos amigos quando quero voar'', revela. E voar, cada vez mais alto, é o destino do chef. Aos 47 anos, ele confessa que agradece todos os dias, por todas as conquistas. ''Mas ainda quero uma coisa: que o restaurante seja o melhor do País''. Se depender da sua dedicação, falta pouco.

Katia Michelle
Equipe da Folha

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