Andando na linha
Com a grife Heroína, o jovem estilista curitibano Alexandre Linhares costura a própria história e começa a chamar a atenção das grandes marcas
Ele é o mais novo de seis irmãos. Todos, a mãe teve sozinha, em casa. Não por acaso o jovem estilista Alexandre Linhares leva uma boa impressão das mulheres fortes e escolheu o nome Heroína para batizar a sua marca, que ganha cada vez mais força dentro e fora do território paranaense. Ele acaba de assinar uma coleção exclusiva para a multimarcas Gappy, e o seu ateliê, no segundo andar do Café Hacienda, em Curitiba, já virou ponto de encontro para quem procura exclusividade e a simpatia do moço, que adora desenhar roupas personalizadas para suas clientes.
O contato com a moda começou cedo, aos sete anos, quando ele cortou por acidente um sofá de couro e viu as espumas saírem do forro. Passou dias pensando em como iria consertar aquilo e achou uma ótima ideia quando dezenas de calças jeans surgiram em sua casa, doadas por um cunhado. Cortou as calças pensando em reformar o sofá, mas logo costurou para si próprio uma nova calça de retalhos. Desde então, nunca mais deixou de fazer as suas próprias peças.
Linhares aprendeu a costurar com a mãe e uma tia, que tinham máquina de costura em casa. Costumava acelerar a máquina, imaginando que estava em um carro de corrida, mas não imaginava que chegaria o dia em que o pedal ajudaria a acelerar também a sua vida. A carreira começou a ser costurada na faculdade de Design de Produto. Ele começou a curso na Universidade Tuiuti do Paraná e terminou na UFPR. Logo no início já se identificou com os alunos de moda, mas decidiu seguir o próprio curso, dando toques bastante pessoais a seus trabalhos.
Em 2002, ele foi o segundo colocado da categoria Estilo Brasil no Prêmio Francal Top de Estilismo, com um sapato que produziu com palha, algodão, papelão e dezenas de fitas do Senhor do Bonfim. Foi a primeira conquista. ''Eu escolhi o curso porque gosto de concorrer e sempre vi premiações nessa área'', brinca o estilista. Ainda na faculdade começou a pintar camisetas e logo foi convidado para participar do Mercado Mundo Mix, com ótimos resultados.
Em 2006, no ano em que se formou, decidiu ''dar um tempo'' à moda e trabalhar com Comunicação Visual. A decisão durou pouco, pois logo o curitibano já estava sentindo falta do mundo da moda. Saiu da agência em que estava e foi trabalhar como vendedor da Gappy. Foi aí que começou a acontecer uma coisa curiosa. As clientes entravam na multimarcas, olhavam o acervo, mas prestavam mais atenção no que o vendedor magrinho de olhos claros e cativantes estava usando. ''Eram peças que eu fazia e que muita gente queria igual. Eu acabei aceitando algumas encomendas''. E foi justamente no Natal daquele ano, época em que os vendedores ganham mais dinheiro com as vendas, que ele decidiu sair da loja e dedicar-se às suas próprias peças.
No ano seguinte, nascia a Heroína, uma marca para mulheres com superpoderes, conforme ele gosta de salientar, mas poderes bem pontuais. ''Uma mulher heroína sabe que poderosa, bonita e consegue o que quer'', reforça. Primeiro ele montou um ateliê na casa da mãe, Marlize, que sempre o apoiou nas suas decisões e criações - ele já vestiu a mãe de mendiga, por exemplo, para um trabalho de fotografia para a faculdade. Ela aceitou ajudar com bom humor incomparável, depois ele montou na casa em que mora com a mulher. E no início deste ano, levou linhas, agulhas, tecidos e suas peças para o segundo andar do Café Hacienda, um espaço cada vez mais dedicado às artes e à moda.
Desde que criou a Heroína, Linhares já apostou em coleções diversificadas. Homenageou o vintage, na coleção Verão 2009, criou peças inspiradas na música Memórias do Mar, cantada por Maria Bethânia, e já criou três atos para o tema Heroínas Aladas. O primeiro, com peças esvoaçantes, o segundo com peças retorcidas que valorizam e se moldam ao corpo da mulher e que teve a modelo africana Sulita Silva como protagonista da campanha, e a terceira versão, com uma coleção exclusiva para a multimarcas Gappy. O próximo passo é voar ainda mais alto. ''Quero aumentar os pontos de venda da Heroína e levar a marca cada vez mais longe'', diz o moço. Poderes para ele fazer isso acontecer não faltam.
Katia Michelle
Equipe da Folha
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