Brilho sob medida
Designer paranaense inova criando joias exclusivas e personalizadas. Características como matéria-prima e formato são definidas de acordo com o estilo do cliente
Curitiba - As pedras dos rios e das fazendas da região dos Campos Gerais, no Paraná, sempre brilharam diferente para o pontagrossense Rodrigo Alarcón. Foi lá, onde passou a infância, que ele começou a gostar - e a colecionar - pequenas pedras brilhantes. O gosto pelos objetos ficou ainda maior quando ele se reunia com os primos e a grande família em torno da avó, que tinha uma penteadeira ''mágica''. Das gavetas dos móveis saiam pedras, joias e histórias que a avó relacionava com carinho: as que ganhara do marido ou aquelas que herdara da mãe. As histórias encantaram o então menino de tal forma que ele nunca pensou em seguir outra profissão senão a de designer de joias.
Na época, porém, a profissão era algo raro na capital paranaense, para onde ele se mudou aos seis anos. Na adolescência, no entanto, enquanto cursava Edificações no Cefet, Alarcón descobriu um meio próprio de desenhar as joias e presentear a família. Desenhava as peças e pagava para que alguém executasse o serviço. O método durou alguns anos, até ele decidir abandonar de vez o curso de Desenho Industrial (já estava no último ano) que fazia e partir definitivamente para o estudo detalhado da profissão.
Ele começou em território brasileiro, mas foi na Europa, onde passou cinco meses (na primeira temporada) que pesquisou a maior parte da história da joalheira, fazendo cursos específicos, passeando por museus e visitando joalherias que ele considera verdadeiros ''museus a céu aberto''. Isso foi em meados da década de 80. Quando ele retornou ao país, foi direto para Anápolis, berço das gemas no Brasil, onde passou mais um ano estudando a lapidação artesanal. De volta a Curitiba, onde escolheu viver, Alarcón deu início a uma atividade pouco comum, mas que está ganhando cada vez mais adeptos (e adeptas): a confecção de joias sob medida. Recentemente, ele levou três meses para criar uma coroa e um rosário personalizado para uma noiva curitibana. ''Hoje tem a cultura de que as pessoas podem vestir joias para todas as ocasiões, mas não é bem assim. Existem situações especiais em que as pessoas querem se sentir especiais e é para essas ocasiões servem as joias personalizadas'', conta.
Funciona assim: ele faz uma pequena entrevista com a ''candidata'' e investiga a personalidade dela para, a partir daí, criar um conceito próprio, que tenha a ver com o estilo de cada cliente. As peças são únicas, e dentro dessa premissa, Alarcón já conquistou seguidores em vários cantos do mundo. Há dois anos, por exemplo, ele promoveu uma exposição peculiar, ''Elos da Terra - Lazos da Terra'', envolvendo joalheiros do Brasil e Argentina em uma exposição simultânea. ''Havia as joias dos brasileiros e vídeos e fotos das joias argentinas e vice-versa. Os visitantes daqui podiam conversar com os visitantes de lá por um programa de bate-papo virtual'', lembra Alarcón.
A mostra aconteceu na loja do designer, que ele mantém há seis anos na Galeria Design Center, em Curitiba, mesmo local de seu escritório. Atualmente, ele trabalha com uma equipe de oito pessoas e outras dez prestam serviços para ele periodicamente para atender a demanda.
A confecção de joias personalizadas é a principal atividade do paranaense, mas ele também lança várias coleções temáticas anuais, como as mais recentes em homenagem a estilistas famosos. Mas outras atividades também estão se expandido em seu ateliê, como a customização e o restauro de joias antigas. Além de encomendarem peças exclusivas, as pessoas também estão ganhando o hábito de customizar as joias, conforme conta Alarcón. Ou seja: pedir outro formato com a matéria-prima do acessório original. ''Ninguém quer investir R$ 200 ou R$ 500 mil numa joia. A realidade mudou. As pessoas customizam ou fazem peças com materiais nobres, mas não tão caros como o diamante, por exemplo''.
Materiais sustentáveis também estão na mira da equipe de Alarcón. A prata utilizada por ele, por exemplo, é obtida por meio de material purificado, sem extração e sem agressão ao ambiente. ''Essa é também uma tendência'', afirma. Para o futuro, Alarcón quer manter essas premissas, mas também promover exposições semelhantes a ''Elos da Terra'' com outros países do Mercosul. Continuar viajando, sempre, também está nos seus planos. Uma forma, segundo ele, de conhecer mais sobre a história das joias e traçar um paralelo com a realidade. ''Muitas pessoas acham que joia é algo futil. Mas estão enganadas. Por meio das joias é possível conhecer a história e a tradição dos povos'', salienta. E Alarcón quer escrever a própria história com brilho.
Katia Michelle - Equipe da Folha
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