terça-feira, 18 de agosto de 2009

down

eu entrei na sala e vi aquele menina lá no cantinho, com a meiguice típica dos portadores de síndrome de down. estava desenhando num caderninho rosa. cumprimentei, peguei o que tinha que pegar e já estava de saída quando ela disse - eu tenho uma pergunta. eu sorri e voltei os passos, interessada. - você tem um diário? mas antes que eu respondesse ela se adiantou - você escreve nele as coisas que o seu namorado ou marido diz pra você? ela não me deixou responder e foi logo mostrando o caderninho dela. disse que estava ali escrevendo e esperando que alguém dissesse ou fizesse alguma coisa pra contar pro diário. é isso que a gente faz por aqui também não é? contar as coisas que as paredes não querem mais ouvir. publicar o que outros já contaram porque não dá mais tempo de mostrar. tem casa, supermercado, criança, trabalho, contas, lixo e outras dezenas de afazeres pelo caminho. e quando dá tempo a gente já esqueceu. porque no meio disso tudo tem que viver também. eu queria contar mais coisas, mas queria esquecer outras. eu tenho vivido muito no mundo real. não dá tempo de fantasiar. e a realidade, olha, não tem sido das mais coloridas. alguém aí pode colocar um prisma nesse sol?

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