quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Autorretratos


Meu primeiro emprego foi numa escola, dando aula de artes para crianças. Mas não era uma escola comum. Por acaso, aos 16 anos, eu descobri um universo mágico e um método pedagógico que, obviamente, nunca tinha ouvido falar. A escola Sempre Nova, que já fechou as portas, baseava o seu ensino na pedagogia desenvolvida pelo educador francês Celéstin Freinet. A escola sempre levava em conta as investigações a respeito da maneira de pensar da criança e de como ela construía seu conhecimento. A partir daí desenvolvia as atividades. Os corredores, salas, pátios e todos os espaços eram tomados por desenhos e pinturas de crianças. Nada de dálmatas ou desenhinhos fofos e limpinhos. Era uma bagunça. Eu gostei tanto daquilo, que desconstruia todo o "Ivo viu a uva" a que eu tinha me submetido, que até cheguei a fazer vestibular para Pedagogia. Passei e frequentei seis meses do curso, mas era tudo muito diferente da Sempre Nova. Parecia que a academia estava anos luz aquém da realidade. Foi uma decepção. Sorte dos alunos, já que eu tive que deixar a escola pra me dedicar aos meus outros planos. O caso é que, quando chegou a hora de procurar uma escola para Helena, eu tinha em mente "aquela" escola. Queria que ela estudasse num ambiente em que a criatividade e o pensamento fossem estimulados. Parece que encontrei essa escola e a cada ano que passa tenho mais certeza disso. Ontem, quando Helena chegou com as atividades do trimestre, fiquei toda emocionada vendo como os conteúdos são trabalhados ao longo do ano. Como um livrinho de autorretratos, catalogado por datas, desde fevereiro. As crianças mesmo conseguem observar sua evolução e constatam como cresceram. De olhinhos discretos no autorretrato do início do ano a este, um dos últimos da série, cheio de detalhes. Uma delícia de acompanhar.

Um comentário:

  1. maravilha, isso compensa muita coisa
    também fiquei satisfeita, com mais confiança na escolha da escolinha da Alice na reunião onde mostrava o trabalho com o material didático, cujo conteúdo já conhecia, mas sempre a dúvida da eficácia, então conclui, ou melhor, percebi, que mesmo brincando, o tempo da minha filha está sendo usado para desenvolver a motricidade, o gosto pela leitura, música e afins

    ResponderExcluir