quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fantoches


Educar é uma tarefa difícil. Ingrata eu diria. Dia após dia eu me vejo nessa encruzilhada. Vontade de deixar a menina fazer o que quer só para que eu não me incomode. Já tenho (e estou tendo mais do que deveria) tantos incômodos diários. Mas não é nisso que acredito. Tenho certas responsabilidades como mãe e ficar de olhos vendados certamente não é uma delas. A relação mãe e filha é algo complicado e não é dicífil perceber. Helena me desafia e me provoca, até que eu chegue no limite, para que ambas se exaltem e dêem o braço a torcer, exaustas. Então ela me abraça, me abraça e me abraça e diz que me ama e diz que chora porque sente saudades. E eu tenho que manter as lágrimas do rosto afastadas e ser firme. Porque sou mãe, às vezes mais do só uma pessoa assustada e com medo de toda essa situação. Sou mãe e, portanto, forte. E ao mesmo tempo que me irrito com toda a provocação dela, tenho orgulho. Não quero que ela seja um fantoche nas mãos de outras pessoas. Quero que ela questione as coisas. Mesmo que seja sobre o que vestir (aliás, vestir roupas quentes nesse inverno frio de Curitiba tem sido nosso maior desafio por aqui) e mesmo que isso me leve, diariamente, a uma exaustão física e mental que nem eu consigo descrever. E para mostrar como fantoches funcionam (mesmo que só eu saiba disso) fizemos uma espécie de oficina aqui em casa. As férias não acabam nunca e é preciso muita criatividade. Esse aí em cima,foi ela quem criou, uma fantoche-menina que vai precisar de muito acabamento ainda, mas que vou colocando o processo aqui, aos poucos. Mesmo porque, é preciso sol para secar. E sol é algo raro ultimamente. Mas vamos aos fatos: numa tarde chuvosa, picamos papel higiênico em uma vasilha. Colocamos água quentinha até cobrir (mas sem encharcar), muita cola branca e uma pitada de água sanitária (na verdade substituímos por pinho sol, o único desfinfetante que tinha na casa. Também serve). Só para não mofar despois de seco. Vira uma pasta que a gente coloca sobre um ovo vazio (o conteúdo virou omelete depois, degustado sem pressa pela menininha) e um tubo de cartolina para virar pescoço. O próximo passo é fazer a roupinha e pintar, claro. Mas é uma atividade demorada. Leva dias e aproxima a gente, como uma trégua para difícil e árdua tarefa de dar lições sobre a vida. Espero que ela aprenda sozinha. Sem que ninguém a manipule. Nem eu.

Um comentário:

  1. Katia,
    Não é ingrata nada esta tarefa. É sim dificil, ardua, tira a gente do sério. Mas não é ingrata. Quando vc vir tua menina sendo educada por aí, vida afora, elogiada pelo que é e faz, usando os valores que vc arduamente transmitiu, que vc está criando um pequeno ser humano que vai, na vida, aplicar o que vc ensinou, verá que de ingrata não tem nada.
    E como isso nos traz satisfação!

    Continue firme!!!

    Bjs

    Cláudia

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