Mariana Guedes trocou Curitiba por Belo Horizonte e viu a moda tomar conta da sua vida. Depois de trabalhar com feras como o estilista Ronaldo Fraga, ela lança a própria marca
Era para ser mais um período de férias, mas, aos 19 anos, Mariana Guedes, paulistana radicada em Curitiba, decidiu fazer algo diferente. Enquanto a família ia para um lado, ela escolheu a distante e oposta cidade de Belo Horizonte para ficar até que as aulas do curso de Desenho Industrial, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, recomeçassem. A cidade foi escolhida aleatoriamente, como poucas decisões da jovem. No ano seguinte, ela decidiria transferir definitivamente a faculdade e começar o que seria uma longa jornada em território mineiro. Hoje, aos 27 anos, depois de acumular experiências em agências de publicidade e trabalhar com o ícone da moda mineira Ronaldo Fraga - um de seus ídolos - ela se prepara para alçar voo solo. Está lançando sua marca Gatos Pingados. Não se trata apenas de uma grife, mas de uma série de estamparias que foram pensadas metodicamente e baseadas na vida da criadora. Os ''gatos pingados'' são seis, cada um com estampas e ''personalidades'' diferentes. Os bichanos aparecem em camisetas infantis (mas os adultos já reclamam o seu quinhão) e produtos como aventais, mas também podem ser bichos de pelúcia muito peculiares. Como cada um tem uma estampa, os filhotes são mesclas dos desenhos e vão ganhar registros de nascimento e até uma comunidade virtual ''para que nenhum deles se perca por aí e seus parentes sempre saibam do seu paradeiro''. Nada por acaso. Mari tem seis irmãos, três por parte de mãe e dois por parte de pai. Foram eles, Lua, 28 anos; Tui, 24; Davi, 13; Pedro, 12; e Júlia, 6, que inspiraram a criação dos gatos. Um sonhador, um brincalhão, um que gosta de explorar o jardim, outro que explora o mundo, um gato que gosta de cozinhar e outro que é um verdadeiro ''gato'' de biblioteca. Os irmãos que inspiraram a criação dos bichos moram cada um em um lugar - na Argentina, em São Paulo e Curitiba, apenas Mariana está radicada agora em Belo Horizonte. A temporada mineira teve intervalos - como um período de três meses na Itália, para estudar e pesquisar tendências - mas foi em Minas que ela começou a flertar com a moda. ''Eu demorei para entender a moda comercialmente. Para mim, a moda sempre foi ligada à pesquisa, aos figurinos de teatro'', conta a designer. No primeiro ano na cidade, cursando Design Gráfico na Universidade Estadual de Minas Gerais, ela fez estágios e trabalhou em importantes agências locais, como a Domínio Público e a Lápis Raro, além de desenvolver trabalhos curiosos. Participou, por exemplo, da criação da identidade visual para atletas de esportes radicais. Foi assim, meio por acaso, que a moda foi tomando conta da vida da jovem que passou a infância e a adolescência no Paraná. O trabalho era mesclado com os estudos, e os trabalhos acadêmicos sempre se voltavam para uma pessoa: o estilista Ronaldo Fraga. Até que surgiu, por intermédio de uma professora, a possibilidade de ela fazer um estágio com o estilista. Pouco tempo depois, Mariana foi contratada e trabalhou duas coleções com o mestre, desenvolvendo estampas e participando de todo o trabalho de criação. Depois disso, Mari seguiu para Itália, e no trajeto de volta trouxe na bagagem o desejo de montar a própria grife. Este ano, pediu demissão na agência que estava trabalhando e agora está se dedicando exclusivamente aos gatos. Lançou um blog (http://www.gatospingados.com/blog/) para falar mais sobre o tema e começar a vender virtualmente os produtos. Até o final do mês, deve entrar no ar o site que vai reunir todos as peças da marca e a comunidade virtual que vai registrar e acompanhar o movimento dos gatos de pelúcia. Medo de tanta mudança? Mari diz não ter. Confessa, aliás, apenas um medo: o de avião. Mas de voar, a moça não tem. Sabe alçar voos longos e seguros.
Katia Michelle
Equipe da Folha
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