sábado, 24 de julho de 2010

As voltas que o mundo dá


Eu tinha 14 anos quando minha mãe decidiu sair de Curitiba e ir para o Nordeste. Não tive nem tempo de me despedir dos amigos. Entrei chorando na Caravan marrom pra uma interminável viagem de 4 dias até chegar ao destino: Campina Grande, na Paraíba. No caminho, só conseguia ler Trapo, do Cristóvão Tezza, e resmungar. Até hoje sei como o livro começa: "Tentei de novo falar com você essa madrugada. As feras da sua família são estúpidas numa insistência que me impressiona" (a primeira vez que fui entrevistar o Tezza, essa frase não me saia da cabeça...). No mesmo dia que cheguei já fui para a escola. Um abismo cultural. Eu não conseguia entender o que a professora falava. Eu não sabia onde estava e nem queria ficar ali. Até que uma garota de cabelo compridão virou pra mim e disse: "Tu tens uma borracha que apague lápis-tinta?". Devo ter ficado uns 3 minutos tentanto entender que ela queria um lápis-borracha para apagar caneta ou algo parecido. Solidária, ela deve ter percebido que eu era de outro planeta e decidiu me ajudar na aterrisagem. Coincidentemente, a irmã dela era casada com um primo meu, que eu nem conhecia. Mas as nossas famílias ficaram muito amigas. E nós também. Foram dois anos de convívio, interrompidos por um incidente absurdo que fez com que voltássemos pra Curitiba. Entrei chorando no avião e nem lembro o que estava lendo. Só conseguia ficar muda. De lá pra cá, muitas coisas aconteceram. É um tempão! Mas nunca deixei de falar com minha amiga. Trocamos cartas e cartas. Nos formamos em Jornalismo na mesma época. Perdemos as primeiras coisas na mesma época. Ganhamos outras na mesma época também. Eu tive Helena e ela Laura. Agora, 20 anos depois, nos encontramos fisicamente pela primeira vez. Ela veio com a família passar uns dias em Curitiba. Chorei no aeroporto, num reencontro de Thelma e Louise. E aqui era como se nunca tivéssemos deixado de nos ver. A família dela é linda! Eu me apaixonei por Laura e Helena ficou super a vontade com todos. A semana passou voando. Eles foram embora e deixaram o tempo comigo. E uma sensação de querer só coisas boas lapidadas em mim. Assim fica mais fácil passar as horas.

Um comentário:

  1. 'Elas foram embora e deixaram o tempo comigo". Que tesão de frase. Mas não só ela, claro.O texto inteiro.
    João Alceu
    Bjão

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