segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sobre janelas que se abrem

Sobre janelas que se abrem


Independente das metáforas há sempre janelas abertas. Da minha janela, vejo janelas de outros prédios. Abertas, fechadas, emperradas, cobertas, escancaradas. Uma em questão - sem cortinas, nem rodeios - estava sempre pronta para receber o vento. Um dia, no entanto, notei que a janela se fechou e assim permaneceu por muito tempo. Não me perguntei  os motivos, mas há alguns dias, quando li no mural do prédio um aviso de falecimento, soou um alerta: janelas se fecham. Pensei na efemeridade das coisas, pensei no tempo que não temos, pensei no tempo que passa. E pensei na janela fechada.  Não entraria mais vento naquele espaço, nem o sol lamberia mais os azulejos. E também pensei que tampouco saberia de quem eram as mãos que pilotavam aquela janela, optando por deixá-la sempre aberta.  Dia desses, porém, renovei a bagunça da casa, joguei fora papéis velhos, cartas, documentos antigos, porta-retratos quebrados. Abri a janela para que a luz entrasse e, por curiosidade, levei meus olhos para a janela que havia se fechado.  Sorri de canto de boca ao ver a janela novamente aberta, com um apoio improvisado e uma forma de alumínio repleta de conchas para secar ao sol. Alguém viajou para ver o mar e trouxe a brisa junto. Apenas isso.
(*) A foto é de uma janela fechada no litoral do Paraná, para lembrar que elas podem ser abertas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário