Independente das metáforas há sempre janelas abertas. Da
minha janela, vejo janelas de outros prédios. Abertas, fechadas, emperradas,
cobertas, escancaradas. Uma em questão - sem cortinas, nem rodeios - estava
sempre pronta para receber o vento. Um dia, no entanto, notei que a janela se
fechou e assim permaneceu por muito tempo. Não me perguntei os motivos, mas há alguns dias, quando li no
mural do prédio um aviso de falecimento, soou um alerta: janelas se fecham. Pensei na efemeridade
das coisas, pensei no tempo que não temos, pensei no tempo que passa. E pensei
na janela fechada. Não entraria mais
vento naquele espaço, nem o sol lamberia mais os azulejos. E também pensei que
tampouco saberia de quem eram as mãos que pilotavam aquela janela, optando por
deixá-la sempre aberta. Dia desses, porém, renovei a bagunça da casa, joguei fora
papéis velhos, cartas, documentos antigos, porta-retratos quebrados. Abri a
janela para que a luz entrasse e, por curiosidade, levei meus olhos para a
janela que havia se fechado. Sorri de
canto de boca ao ver a janela novamente aberta, com um apoio improvisado e uma
forma de alumínio repleta de conchas para secar ao sol. Alguém viajou para ver
o mar e trouxe a brisa junto. Apenas isso.
(*) A foto é de uma janela fechada no litoral do Paraná, para lembrar que elas podem ser abertas.
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