terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pinturas que a vida faz

Ela disse que jamais me desenharia de olho roxo, mas olho esse desenho e penso que parece um retrato perfeito de alguns momentos. Olhos roxos existem em mim, ainda que transparentes. Olhos roxos aparecem nas pequenas decepções do dia, no cansaço de tentar ser o que é mais aceitável. Tenho os olhos roxos por ti... São “doidos”, na música de Nei Lisboa. Mas tenho os olhos doidos/roxos das coisas que não digo, das coisas que não faço, das coisas que penso e não revelo. Vai transbordando nos poros. Ficando lilás embaixo das pálpebras até aparecerem azulados, roxos, machucados. Eu tenho os olhos machucados, tristes, caídos para baixo. Meus cantos dos olhos não têm visão periférica, tem visão do que está sob. E embaixo do tapete há sempre poeira. Há sempre acúmulo do que ninguém quer mais. Meus olhos têm alergia do pó acumulado embaixo dos tapetes da vida. E ficam roxos...

(*) Ilustração de Helena, cada dia mais representativa.












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