sábado, 10 de outubro de 2009

Rituais















A cortina de penduricalhos precisa estar metricamente separada, com dois fios centralizados, pendendo pela porta. Significam os desejos do dia. Se alguém, por algum motivo, os desvia, cuidado, pode ser motivo de choradeira. Lágrimas sentidas que caem também quando as canetas não estão devidamente separadas por cor, as bonecas de pano não estão alinhadas em ordem de chegada ou a mãe esquece, ou apenas não quer, fazer o chá da noite. O chá virou ritual. De camomila, de erva doce e - de preferência - os de folhinhas delicadas, não os de saquinhos insossos. Já aprendeu a exigir o que que gosta, embora exija também uma paciência infinita de quem está ao lado. Mas aí, me deparo com isso:

..."Quando se torna ritual, o chá constitui o cerne da aptidão para ver a grandeza das pequenas coisas. Onde se encontra a beleza? Nas grandes coisas que, como as outras, estão condenadas a morrer, ou nas pequenas que, sem nada pretender, sabem incrustar no instante uma preciosa pedrinha de infinito?" (*)

E corro colocar a água para ferver.

(* Muriel Barbery inspirada no Livro do Chá, de Kazuko Okakura)

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